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Angra dos Reis
O mar, com sua vastidão e mistério, é também um repositório silencioso de memórias ancestrais, guardando em seu fundo os vestígios de uma história dolorosa, mas essencial para compreender a formação do Brasil. Ao longo da costa do Rio de Janeiro, muitos navios negreiros naufragaram, levando consigo vidas humanas, e também sonhos, histórias e culturas que cruzaram o Atlântico forçosamente. Esses naufrágios formaram sítios arqueológicos submersos, ainda em grande parte inexplorados, que carregam fragmentos da travessia e do sofrimento, mas também da resistência dos povos africanos escravizados. Cada peça resgatada das profundezas é uma janela para a história, uma oportunidade de reconstruir narrativas apagadas e de fortalecer a luta por justiça histórica.
A descoberta e o estudo desses sítios têm o potencial de se tornarem ferramentas poderosas para a reconexão com a ancestralidade e para o reconhecimento das raízes africanas na construção do país. Além disso, são instrumentos para legitimar a luta por territórios quilombolas, já que reforçam a presença histórica e a continuidade cultural das comunidades afrodescendentes. As águas que um dia foram palco de tragédias podem hoje ser ressignificadas como espaços de memória e resistência, unindo ciência, história e espiritualidade na busca por reparação e preservação da identidade afro-brasileira. Assim, o mar não apenas guarda, mas também inspira e conecta, servindo como um testemunho vivo da força e da resiliência dos povos africanos e seus descendentes.
Quilombo do Bracuí
Quilombo do Bracuí O Quilombo do Bracuí, localizado em Angra dos Reis, é um território de resistência e memória, onde trabalhadores descendentes de africanos escravizados continuam a lutar por seus direitos e pela preservação de sua identidade. A história da comunidade, marcada pela tradição oral e pelo rico patrimônio cultural do jongo – expressão de dança, canto e versos ligados ao legado africano no Brasil – tornou-se uma poderosa bandeira de afirmação da identidade quilombola e de valorização de suas raízes ancestrais.
A memória coletiva do Quilombo do Bracuí é profundamente marcada pelo episódio da doação de lotes de terra aos escravizados da antiga Fazenda Santa Rita, registrada no testamento de José de Souza Breves, em 1878. A família Souza Breves, que esteve à frente de diversas fazendas e do comércio ilegal de africanos, utilizava a fazenda, estrategicamente localizada em Angra dos Reis, como ponto de chegada de milhares de pessoas traficadas. Ali, os recém-chegados se recuperavam da longa travessia antes de serem levados para as plantações de café do Vale do Paraíba, alimentando o ciclo de exploração da economia cafeeira.
Entre as narrativas que ecoam na comunidade, a do Sr. Moraes destaca o chamado “caso do Bracuí”, relacionado ao naufrágio do Brigue Camargo, que trouxe 540 africanos de Moçambique. Esse episódio tornou-se um marco histórico, ilustrando os esforços do governo imperial em encobrir o tráfico de escravizados, enquanto a prática persistia clandestinamente. A comunidade do Bracuí mantém viva a memória desses desembarques ilegais, transformando as águas de Angra dos Reis em um símbolo de luta e de conexão com sua ancestralidade.
AfrOrigens
Durante centenas de anos, milhões de africanos foram escravizados e trazidos forçadamente ao Brasil em diferentes tipos de navios, de maneira desumana para servirem como mão de obra nos trabalhos que formaram a riqueza desta nação.
Este ambicioso projeto de pesquisa busca respostas para questões que ainda são veladas, e com isto trazer ao grande público, no Brasil e no exterior, o debate sobre as viagens Atlânticas, e como alguns dos naufrágios desses navios escravagistas representam a materialidade, a prova destes crimes contra a humanidade.
Hoje, os kilombos continuam sendo centros de resistência cultural e política, onde a memória ancestral é transmitida e as lutas contemporâneas ganham força. Além de defender seus territórios, as comunidades kilombolas atuam para preservar suas tradições, reafirmar sua identidade e exigir reparações pelos danos históricos sofridos. Sua luta não é apenas por terra, mas por dignidade, respeito e reconhecimento de sua contribuição indispensável à formação do Brasil.
