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O mar, além de sua dimensão espiritual, é também fonte essencial de vida e sustento para comunidades afrodescendentes que encontraram nos litorais do Rio de Janeiro um espaço para reconstruir suas existências após séculos de opressão. Essas comunidades, muitas vezes organizadas em quilombos costeiros, estabeleceram uma relação íntima e sustentável com o oceano, dele retirando o necessário para sua subsistência por meio da pesca artesanal e da coleta de mariscos. O pescado, além de alimento, tornou-se uma base para a preservação de sua cultura, sustentando práticas culinárias ancestrais e rituais que reforçam a conexão entre o mar, a terra e os saberes tradicionais
Hoje, comunidades como as de Sepetiba, Itaipu, e Ilha da Marambaia mantêm vivas essas tradições, resistindo às pressões da modernidade e à ameaça da degradação ambiental. A pesca artesanal, transmitida de geração em geração, não é apenas uma prática econômica, mas um elo cultural que conecta essas comunidades a seus ancestrais africanos e à natureza que os cerca. O marisco e o peixe extraídos das águas ainda são símbolos de soberania alimentar e de resiliência, demonstrando que, mesmo diante de desafios sociais e ambientais, essas comunidades continuam a celebrar e preservar sua herança por meio da relação harmoniosa e respeitosa com o mar.
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Em alguns relatos trazidos pelo pesquisador Henrique Barahona sobre como a família Furtado passou referências dos seus ancestrais, estava por exemplo o fato de que um integrante da família ainda se lembra de um canto de sua avó que dizia: “Meu avô veio da mina, eu vim de Minas Gerais”, seria uma referência a Serra da Mina. Uma relação histórica já traçada com a expressão que denota na verdade uma gama ampla do território ou : “Foi quando constatei que a expressão “negro mina” ou “negro da Costa da Mina“, encontrada nos documentos dos séculos XVII e XVIII, era a abreviação da expressão “negro da costa situada no leste do Castelo São Jorge da Mina”, ou seja, “oriundo da Costa dos Escravos”, situada entre os rios Volta e Lagos” A Costa dos Escravos era o nome das áreas costeiras dos atuais Benim, Togo e Nigéria ocidental.
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Celso Cabuçu, pescador e compositor musical de 61 anos, é um dos guardiões vivos da memória oral de sua família e de sua comunidade, e um dos poucos descendentes que ainda preserva e compartilha as histórias e tradições transmitidas por seus ancestrais, como por exemplo o ofício de trançar a Taboa para fazer esteiras. Pescador e coletor de mariscos, ele segue vivendo e sustentando sua família a partir da relação direta com o mar, mantendo práticas que são tanto modos de sobrevivência quanto manifestações de uma identidade cultural Afrobrasileira profundamente enraizada. Suas palavras e ações tornam-se rotas que ligam o presente ao passado, garantindo que as narrativas e os saberes ancestrais não desapareçam com o avanço do tempo.
Entretanto, Celso enfrenta a constante pressão da especulação imobiliária, que busca transformar Piratininga, incluindo o território de sua família, em mais um espaço ocupado por empreendimentos de luxo. A resistência prática de Celso e de seus primos em permanecer no local não é apenas uma luta pela permanência física, mas também pela preservação de um modo de vida sustentável e alinhado ao equilíbrio ambiental. Sua batalha diária é marcada pela coragem de fazer a pescaria conviver com interesses econômicos poderosos, reafirmando o valor de sua história, de sua conexão com o mar e do legado que representa para as próximas gerações.

A família de Cabuçu habitou / e ainda habita uma área que era denominada como Solta Caixão. Devido à posição na encosta do morro, o local servia de acesso para os moradores de Piratininga chegarem de canoa com seus entes falecidos, de onde seguiriam de forma mais fácil ao Morro da Viração, para por fim enterrar mortos em Jurujuba. Lá a existência do cemitério da Igreja de Nossa senhora da Conceição é um possível destino que daria fim ao trajeto do corpo.
Confirmado pela historiadora Mônica Lima em uma das conversas durante a pesquisa deste projeto, a figura de pescador e de trabalhador do “porto” conferia à população negra algumas brechas para que pudessem acumular algum dinheiro, pois como é um local de chegadas e saídas era sempre movimentado e com muita oferta de trabalho. Alguns podem ter trazido o saber fazer de África, ou aprendido em terras brasileiras, mas de qualquer forma era uma atividade que poderia ser praticada no mar ou nas lagoas, servindo também como uma das fontes de renda que nem sempre eram fixas.
Durante a pesquisa, no processo de imaginar possíveis rotas, caminhos e espaços por onde as pessoas negras escravizadas podem ter passado assim que chegaram dos navios negreiros, surgiram 3 espaços na região de Piratininga: a ponte de pedra que integra o PARNIT, a Tapera do Tibau e a fonte de água na atual rua dos pampos.
Como podemos ver neste fragmento do documentário "Itaipu Era uma Praia Só" de 1993 de Eliane Leite, os pescadores artesanais de Itaipu, e consequentemente de Piratininga, em Niterói, enfrentam desafios históricos para manter suas tradições, territórios / maretórios diante da pressão da especulação imobiliária e dos impactos das mudanças climáticas. João Mendonça Filho, o Tinga, citado neste relato, é lembrado porque teve sua casa incendiada para dar passagem ao "progresso".
O avanço descontrolado da urbanização tem ameaçado áreas costeiras essenciais para a reprodução de espécies marinhas e para o sustento dessas comunidades, que dependem do equilíbrio ecológico para continuar pescando e coletando recursos naturais. Além disso, o aumento das temperaturas, a acidificação dos oceanos e as alterações nos padrões climáticos têm causado perdas na biodiversidade e afetado diretamente a pesca artesanal, comprometendo a segurança alimentar e a cultura local.
Ao resistir a esses processos, os pescadores enfrentam também os riscos associados ao "progresso" predatório. Ao denunciar o impacto ambiental de grandes empreendimentos e lutar contra a privatização dos espaços públicos, eles desafiam interesses poderosos que ignoram a importância dos biomas costeiros e das comunidades que os protegem
Essa resistência é fundamental não apenas para salvaguardar suas próprias práticas e tradições ancestrais, mas também para proteger ecossistemas inteiros que beneficiam a sociedade como um todo.